Equilíbrio
Uma animação curtinha e genial, assim resumida pelo meu amigo Levi Araújo. “O outro é a nossa causa, pois sem ele, perdemos o equilibrio, nos perdemos e perdemos o que tanto desejamos”.
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Horário Político 2
Aí vai o primeiro programa do José Serra. Pode ser resumido em uma palavra: frustrante.
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O horário político
Apenas agora estou conseguindo ver os primeiros programas dos candidatos à presidência. Este é o de Dilma Rousseff. Técnica e esteticamente falando, é irretocável. Bonito, intimista, humano. João Santana começou com o pé direito.
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A recente onda de assaltos de que foram vítimas derrubou o principal mito criado sobre os shopping centers: a de que sejam ilhas de segurança em metrópoles violentas como as nossas.
Tal ilusão ajudou a espalhar essa horrorosa cultura do shopping Brasil afora, embora nada justificasse a construção de enormes centros de compra fechados em um país onde faz sol e calor o ano inteiro.
A proliferação dos shoppings talvez seja o principal sintoma de uma cidade doente, incapaz de oferecer condições mínimas de convivência em suas praças públicas.
De repente, não apenas lojas, mas restaurantes, bares, playgrounds, cinemas, teatros e todo trânsito de gente são deslocados para dentro de uma redoma.
Do lado de fora, ficam os imensos congestionamentos, as áreas degradadas, os excluídos e os imensos vazios de civilização.
Do lado de dentro, a reprodução do nosso ideal de sociedade: segmentada por classe, planejada e segura, um mundo alheio aos problemas, tensões e mazelas urbanas.
Nada mais fetichista, como os assaltantes de shopping têm ensinado.
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Medo
Há momentos muito singulares em que sentimos medo.
Não os medos cotidianos, que muitos nos perseguem.
Medo de verdade.
Foi o que senti quando as luzes do cinema acenderam-se, e os policiais entraram ordenando que abandonássemos a sala pela saída de emergência.
Bandidos tinham assaltado duas relojoarias no shopping e trocado tiros com os seguranças.
Um policial morreu.
Devidamente revistados, deixamos a sala, pegamos nosso ingresso de volta e seguimos em frente.
As dezenas de carros de polícia e ambulâncias em frente ao local, com seus vidros estilhaçados pelas balas perdidas, nos contaram sobre a real dimensão do ocorrido.
Não vi nem ouvi um tiro sequer, mas fui tomado pela mesma vulnerabilidade de quando tive uma arma apontada para a cabeça.
O assalto aconteceu às dez e meia. Cruzamos aquele corredor apenas dez minutos antes.
Impossível não reconstruir cada passo dado naquela noite e constatar que, por um capricho qualquer – um semáforo fechado, por exemplo – poderíamos ter sido alvos do fogo cruzado.
Recuso-me a pensar que fui beneficiado pela providência divina enquanto outro homem perdeu sua vida.
Ao mesmo tempo, como não agradecer? Está aí um paradoxo que minha teologia não explica…
Carrego apenas a sensação de que a morte passou perto.
E ela é assustadora.
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Picadeiro eleitoral
José Serra se saiu melhor que Dilma no debate da Band, ontem à noite.
O Tucano estava descontraído, sorridente e à vontade no papel que assumiu.
A petista, por sua vez, estava visivelmente tensa e deslocada. Gaguejava o tempo todo, e vacilava até com os números mais fáceis.
O que isso quer dizer? Nada, exceto que Serra é muito melhor de TV do que Dilma Rousseff.
Essa é única habilidade que se pode aferir de um debate eleitoral, pelo menos nesse formato.
E o debate de ideias, a discussão sobre os grandes temas do País e os projetos de governo? Esqueçam. Vamos, mais uma vez, votar no escuro.
O debate de ontem foi dominado por uma discussão chatíssima e pequena sobre as Apaes. Estratégia de desenvolvimento, políca econômica, modelo educacional? Nada disso. Mais importante é falar dos mutirões da catarata.
Em meio ao vazio de ideias, resta lamentar que Marina Silva e Plínio Sampaio não tenham candidaturas com chances de vitória. Os dois protagonizaram os momentos mais interessantes e inteligentes do debate.
Marina carrega um fervor missionário e uma biografia que a fazem tão grande quanto Lula.
Plínio, no auge de seus 80 anos, é capaz de provocar e levantar as velhas bandeiras da esquerda com humor, inteligência e sagacidade – foi o grande vencedor da noite.
Perto deles, Dilma e Serra não passam de dois postes.
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“A religião da fraternidade sempre se chocou com a ordem de valores deste mundo, e quanto maior a coerência com que suas ideias foram levadas à prática tanto mais agudo foi o choque. A divisão se tornou em geral mais profunda na medida em que os valores do mundo foram racionalizados e sublimados do ponto de vista de suas próprias leis”.
MAX WEBER, “Rejeições religiosas do mundo”
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A Oração BigMac
Que as igrejas neopentecostais transformaram o cristianismo em uma mercadoria de prateleira não chega a ser uma novidade, mas algumas evidências ainda surpreendem.
Dia desses, dirigindo pela Domingos de Moraes, dou de cara com um, vejam só, “DRIVE-THRU DE ORAÇÃO”!
A coisa funciona mais ou menos assim: você encosta seu carro na barraca montada em frente ao templo, recebe uma oração “rapidinha”, dá sua oferta e volta para o trânsito. Tudo em cinco minutos…
Ainda tenho dúvidas se o mais apropriado não seria chamar o esquema de “drive-in de oração”, mas “drive-thru” tem seu mérito: carrega um significado bastante didático sobre a natureza comercial do negócio.
Conceitualmente, o drive-thru da igreja em nada difere daquele encontrado nos McDonald’s. E tal oração não significa, pela mesma lógica, muito mais do que o BigMac que se devora entre um semáforo e outro.
Nos dois casos, é a forma que define o conteúdo.
Assim como um destrói qualquer resquício de sacralidade no ato de comer, o outro esvazia e ridiculariza o de orar.
A forma também nos diz que ambos, seja o hambúrguer, seja a oração, estão lá para ser consumidos – o que torna absolutamente irrelevante a questão do preço.
A igreja que monta um drive-thru de oração não está preocupada em proporcionar ao “usuário” um momento de introspecção, autoconhecimento ou transcendência, ensinar algo sobre os preceitos da religião ou estimulá-lo a fazer o bem, mas em oferecer uma proteção espiritual qualquer.
Poderia ser uma benção, um passe, um amuleto, uma fitinha do Nosso Senhor do Bonfim ou um chá milagroso contra a impotência sexual e a calvice. Por que não um Jesus Cristo Pra Viagem?
***
Dias depois de conhecer o drive-thru de oração, estou eu empurrando um carrinho de supermercado quando os alto-falantes ecoam: “senhores clientes, respeitem as vagas preferenciais no estacionamento. Respeitar o próximo é o primeiro passo para construir um futuro melhor”. Cá entre nós, há mais cristianismo no serviço de som de alguns supermercados do que em muitas igrejas.
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Sobre a morte e o tempo
Há alguns dias passei pela experiência de ver uma pessoa morrer.
Aguardava meu voo em Congonhas quando um homem de cinquenta e poucos anos sofreu um infarto fulminante a poucos metros de onde estava.
De nada adiantaram os trabalhos de salvamento, as massagens cardíacas, a respiração artificial, as injeções de insulina e os choques do desfibrilador. Para aquele homem, a jornada encerrava-se ali, na sala de embarque de um aeroporto, com dezenas de testemunhas em volta.
Difícil medir o impacto que uma experiência como essa tem sobre cada pessoa, mas sem dúvida ela diz muito sobre a fragilidade do corpo humano e a brevidade da vida.
Diante da frenética batalha dos paramédicos e de toda comoção em volta deles, me surpreendi observando o relógio que aquele homem usava no pulso esquerdo.
Pois ele próprio não mais vivia, mas a pequena engrenagem que carregava presa ao corpo continuava a mover os ponteiros e a marcar o tempo, como se chamasse a atenção para seu fôlego inesgotável.
E me pus a pensar em como pautamos nossa vida pelo tempo, de modo que tempo e vida parecem duas coisas indistintas e indissociáveis.
Adquirimos o péssimo hábito de contar nossos dias e anos, e de planejar e executar tarefas de modo a respeitar os caprichos do relógio.
Observei então como, um a um, os demais passageiros começaram a se retirar dali e a se dirigir para seus embarques. Após uma breve interrupção, retomavam suas rotinas, como eu haveria de fazer em alguns instantes.
A máquina humana ali estendida no chão havia parado definitivamente; as engrenagens do tempo, não.
“Pequena é a parte da vida que vivemos. Pois todo o restante não é vida, mas tempo”
Sêneca
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Cala Boca, Pelé!
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