Equilíbrio

06set10

Uma animação curtinha e genial, assim resumida pelo meu amigo Levi Araújo. “O outro é a nossa causa, pois sem ele, perdemos o equilibrio, nos perdemos e perdemos o que tanto desejamos”.

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Aí vai o primeiro programa do José Serra. Pode ser resumido em uma palavra: frustrante.

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Apenas agora estou conseguindo ver os primeiros programas dos candidatos à presidência. Este é o de Dilma Rousseff. Técnica e esteticamente falando, é irretocável. Bonito, intimista, humano. João Santana começou com o pé direito.

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A recente onda de assaltos de que foram vítimas derrubou o principal mito criado sobre os shopping centers: a de que sejam ilhas de segurança em metrópoles violentas como as nossas.  

Tal ilusão ajudou a espalhar essa horrorosa cultura do shopping Brasil afora, embora nada justificasse a construção de enormes centros de compra fechados em um país onde faz sol e calor o ano inteiro.

A proliferação dos shoppings talvez seja o principal sintoma de uma cidade doente, incapaz de oferecer condições mínimas de convivência em suas praças públicas.

De repente, não apenas lojas, mas restaurantes, bares, playgrounds, cinemas, teatros e todo trânsito de gente são deslocados para dentro de uma redoma.

Do lado de fora, ficam os imensos congestionamentos, as áreas degradadas, os excluídos e os imensos vazios de civilização.

Do lado de dentro, a reprodução do nosso ideal de sociedade: segmentada por classe, planejada e segura, um mundo alheio aos problemas, tensões e mazelas urbanas.

Nada mais fetichista, como os assaltantes de shopping têm ensinado.


Medo

10ago10

Há momentos muito singulares em que sentimos medo.

Não os medos cotidianos, que muitos nos perseguem.

Medo de verdade.

Foi o que senti quando as luzes do cinema acenderam-se, e os policiais entraram ordenando que abandonássemos a sala pela saída de emergência.

Bandidos tinham assaltado duas relojoarias no shopping e trocado tiros com os seguranças.

Um policial morreu.

Devidamente revistados, deixamos a sala, pegamos nosso ingresso de volta e seguimos em frente.

As dezenas de carros de polícia e ambulâncias em frente ao local, com seus vidros estilhaçados pelas balas perdidas, nos contaram sobre a real dimensão do ocorrido.

Não vi nem ouvi um tiro sequer, mas fui tomado pela mesma vulnerabilidade de quando tive uma arma apontada para a cabeça.

O assalto aconteceu às dez e meia. Cruzamos aquele corredor apenas dez minutos antes.

Impossível não reconstruir cada passo dado naquela noite e constatar que, por um capricho qualquer – um semáforo fechado, por exemplo – poderíamos ter sido alvos do fogo cruzado.

Recuso-me a pensar que fui beneficiado pela providência divina enquanto outro homem perdeu sua vida.

Ao mesmo tempo, como não agradecer? Está aí um paradoxo que minha teologia não explica…

Carrego apenas a sensação de que a morte passou perto.

E ela é assustadora.


José Serra se saiu melhor que Dilma no debate da Band, ontem à noite.

O Tucano estava descontraído, sorridente e à vontade no papel que assumiu.

A petista, por sua vez, estava visivelmente tensa e deslocada. Gaguejava o tempo todo, e vacilava até com os números mais fáceis.

O que isso quer dizer? Nada, exceto que Serra é muito melhor de TV do que Dilma Rousseff.

Essa é única habilidade que se pode aferir de um debate eleitoral, pelo menos nesse formato.

E o debate de ideias, a discussão sobre os grandes temas do País e os projetos de governo? Esqueçam. Vamos, mais uma vez, votar no escuro.

O debate de ontem foi dominado por uma discussão chatíssima e pequena sobre as Apaes. Estratégia de desenvolvimento, políca econômica, modelo educacional? Nada disso. Mais importante é falar dos mutirões da catarata.

Em meio ao vazio de ideias, resta lamentar que Marina Silva e Plínio Sampaio não tenham candidaturas com chances de vitória. Os dois protagonizaram os momentos mais interessantes e inteligentes do debate.
Marina carrega um fervor missionário e uma biografia que a fazem tão grande quanto Lula.

Plínio, no auge de seus 80 anos, é capaz de provocar e levantar as velhas bandeiras da esquerda com humor, inteligência e sagacidade – foi o grande vencedor da noite.

Perto deles, Dilma e Serra não passam de dois postes.


“A religião da fraternidade sempre se chocou com a ordem de valores deste mundo, e quanto maior a coerência com que suas ideias foram levadas à prática tanto mais agudo foi o choque. A divisão se tornou em geral mais profunda na medida em que os valores do mundo foram racionalizados e sublimados do ponto de vista de suas próprias leis”.

MAX WEBER, “Rejeições religiosas do mundo”


Que as igrejas neopentecostais transformaram o cristianismo em uma mercadoria de prateleira não chega a ser uma novidade, mas algumas evidências ainda surpreendem.

Dia desses, dirigindo pela Domingos de Moraes, dou de cara com um, vejam só, “DRIVE-THRU DE ORAÇÃO”!

A coisa funciona mais ou menos assim: você encosta seu carro na barraca montada em frente ao templo, recebe uma oração “rapidinha”, dá sua oferta e volta para o trânsito. Tudo em cinco minutos…

Ainda tenho dúvidas se o mais apropriado não seria chamar o esquema de “drive-in de oração”, mas “drive-thru” tem seu mérito: carrega um significado bastante didático sobre a natureza comercial do negócio.

Conceitualmente, o drive-thru da igreja em nada difere daquele encontrado nos McDonald’s. E tal oração não significa, pela mesma lógica, muito mais do que o BigMac que se devora entre um semáforo e outro.

Nos dois casos, é a forma que define o conteúdo.

Assim como um destrói qualquer resquício de sacralidade no ato de comer, o outro esvazia e ridiculariza o de orar.

A forma também nos diz que ambos, seja o hambúrguer, seja a oração, estão lá para ser consumidos – o que torna absolutamente irrelevante a questão do preço.

A igreja que monta um drive-thru de oração não está preocupada em proporcionar ao “usuário” um momento de introspecção, autoconhecimento ou transcendência, ensinar algo sobre os preceitos da religião ou estimulá-lo a fazer o bem, mas em oferecer uma proteção espiritual qualquer.

Poderia ser uma benção, um passe, um amuleto, uma fitinha do Nosso Senhor do Bonfim ou um chá milagroso contra a impotência sexual e a calvice. Por que não um Jesus Cristo Pra Viagem?

 ***

Dias depois de conhecer o drive-thru de oração, estou eu empurrando um carrinho de supermercado quando os alto-falantes ecoam: “senhores clientes, respeitem as vagas preferenciais no estacionamento. Respeitar o próximo é o primeiro passo para construir um futuro melhor”. Cá entre nós, há mais cristianismo no serviço de som de alguns supermercados do que em muitas igrejas.


Há alguns dias passei pela experiência de ver uma pessoa morrer.

Aguardava meu voo em Congonhas quando um homem de cinquenta e poucos anos sofreu um infarto fulminante a poucos metros de onde estava.

De nada adiantaram os trabalhos de salvamento, as massagens cardíacas, a respiração artificial, as injeções de insulina e os choques do desfibrilador. Para aquele homem, a jornada encerrava-se ali, na sala de embarque de um aeroporto, com dezenas de testemunhas em volta.

Difícil medir o impacto que uma experiência como essa tem sobre cada pessoa, mas sem dúvida ela diz muito sobre a fragilidade do corpo humano e a brevidade da vida.

Diante da frenética batalha dos paramédicos e de toda comoção em volta deles, me surpreendi observando o relógio que aquele homem usava no pulso esquerdo.

Pois ele próprio não mais vivia, mas a pequena engrenagem que carregava presa ao corpo continuava a mover os ponteiros e a marcar o tempo, como se chamasse a atenção para seu fôlego inesgotável.

E me pus a pensar em como pautamos nossa vida pelo tempo, de modo que tempo e vida parecem duas coisas indistintas e indissociáveis.

Adquirimos o péssimo hábito de contar nossos dias e anos, e de planejar e executar tarefas de modo a respeitar os caprichos do relógio.

Observei então como, um a um, os demais passageiros começaram a se retirar dali e a se dirigir para seus embarques. Após uma breve interrupção, retomavam suas rotinas, como eu haveria de fazer em alguns instantes.

A máquina humana ali estendida no chão havia parado definitivamente; as engrenagens do tempo, não.

Pequena é a parte da vida que vivemos. Pois todo o restante não é vida, mas tempo
Sêneca